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História Oral e Memória

No Ensino de História ensinar acerca de memórias, frequentemente aparece como um aspecto negativo da disciplina, como dando a História a ideia de “um conteúdo de simples memorização” ou apenas um “conjunto de datas e fatos”., Sendo assim, parte disso é como culpa da ligação de seu passado quanto disciplina com o objetivo de fortalecer Estado, Nação e civismo, que por muitos anos permeou as definições dos conteúdos de História nos currículos.

Segundo as historiadoras Mari Schmidt e Marlene Carneli,  “Os principais conteúdos de Historia no Brasil tinham como objetivo a constituição e a formação da nacionalidade, com seus heróis e marcos históricos, sendo a pátria principal personagem desse tipo de ensino” (SCHMIDT, CARNELI, 2010, p. 13).

As transformações que a disciplina de História passou no decorrer do tempo, estão relacionadas com as transformações sociais, políticas e educacionais ocorridas no Brasil. Já desde a implantação da República em 1889, a educação passaria a ter a função de transformar o país. A disciplina de história passa a ter nesse contexto um papel civilizatório e patriótico. Segundo o PCN da disciplina de História:

A História passou a ocupar no currículo um duplo papel: o civilizatório e o patriótico, formando, ao lado da Geografia e da Língua Pátria, o tripé da nacionalidade, cuja missão na escola elementar seria o de modelar um novo tipo de trabalhador: o cidadão patriótico (BRASIL, 1997, p. 20).

 

Em conversas informais no ambiente educacional com professoras de 4° e 5º ano do ensino fundamental I, ao longo da caminhada docente, fica claro que uma das grandes perguntas que permeiam as ações dessas docentes é qual finalidade tem o ensino de história para os anos iniciais e como ensinar. É evidente que por não possuírem em sua formação um estudo mais apurado, desconhecendo o significado a disciplina para a formação do aluno, a noção de aprendizagem das professoras é pequena.

 

A noção que as professoras passam sobre a aprendizagem em história é marcada pela ideia de passividade do aluno frente a um conteúdo a ser aprendido, qualquer livro ensina. Este aprender pelos/nos livros caminha lado a lado com uma ideia de aprendizagem natural do tempo e da história (OLIVEIRA, 2006, p. 89).

 

Logo as perguntas sobre a disciplina são muitas, Oliveira (2006), em sua tese de doutorado escreve que as professoras não sabem essa resposta de forma coesa, e são várias as definições encontradas em suas falas, como ensinar desde a identidade, informações de conhecimento, cidadania, relação do passado e presente e conhecer o meio e a natureza. Ainda segundo a autora é possível que essas divergências estejam ligadas as mudanças do ensino de História nas últimas décadas.

 

É necessário, portanto, que o ensino de Historia seja revalorizado e que os professores conscientizem-se de sua responsabilidade social perante os alunos, preocupando-se em ajuda-los a compreender e esperamos a melhorar o mundo em que vivem (Pinsky2004, p. 22).

 

O ensino de História deve promover o encontro de novas realidades, e partindo do micro para o macro, apresentar aos alunos sua realidade local, para que este se sinta sujeito pertencente da História que lhe está sendo ensinada. Assim o aluno poderá se tornar um investigador de sua própria história, aprendendo a compreender as múltiplas culturas que o cercam, respeitando a diversidade e sendo agente produtor de saber. É possível, assim, que os próprios estudantes percebam o jogo de escalas de observação necessário para a melhor compreensão de questões complexas que atravessam o cotidiano. A História Oral produz narrativas orais que são narrativas de memória, de identidades, e embora não representem exatamente o que existiu, se esforçam para propor intangibilidade propondo uma melhor compreensão de como o passado chega até o presente. Portanto, “a dependência da memória, em vez de outros textos, é o que define e diferencia a história oral em relação a outros ramos da História”. (FENTRESS; WICKHAM, 1992 apud ERRANTE, 2000, p. 142).

Logo a História Oral busca ouvir e registrar as vozes dos sujeitos excluídos da História oficial e inseri-los dentro dela. Para Thompson, “A História Oral devolve a história as pessoas em suas próprias palavras. E ao dar lhes dar um passado, ajuda-as também a caminhar para um futuro construído por elas mesmas.” (THOMPSON, 1998, P. 337).

Além de tudo, a memória serve como um importante suporte que dá sentido à história de vida de cada sujeito, e isso não é diferente em relação a uma comunidade. Podemos pensar a memória como a capacidade que temos de conservar e lembrar de experiências de nosso passado, lembranças que possuímos do meio em que vivemos, de nossa família, localidade, da sociedade que nos cerca.

A Memória é fonte imprescindível para a construção da História de uma comunidade e das pessoas da qual dela fazem parte, e levar em conta as memórias de uma localidade através das histórias contadas, é elemento importante de saber histórico para trabalhar com alunos nas aulas de História, ressignificando as lembranças desses educandos e os ensinando a compreender que suas lembranças também fazem parte de uma história.

REFERÊNCIAS:

BRASIL Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: história (1ª a 4ª séries)/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília:MEC/SEF, 1997.

ERRANTE, Antoinette. Mas afinal, a memória é de quem? Histórias Orais e Modos de Lembrar e Contar. História da Referências Educação/ASPHE, Pelotas: Ed. da UFPel, n. 8, p. 140-174, 2000.

OLIVEIRA, S. R. F. de. O ensino de história nas séries iniciais: cruzando as fronteiras entre a História e a Pedagogia. História & Ensino: Revista do Laboratório de Ensino de História / UEL. vol. 9. Londrina: UEL, out. 2003. p. 259 – 272.

PINSKY, Jaime e PINSKY, Carla Bassanezi. Por uma história prazerosa e consequente. In: KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2004.

SCHMIDT, Mari Auxiliadora e CARNELI, Marlene. Ensinar História. 1ª edição. São Paulo: Editora Scipione, 2010.

THOMSON, Alistair, FRISCH, Michael, HAMILTON, Paulo. Os debates sobre memória e história: alguns aspectos internacionais, In: AMADO, Janaína & FERREIRA, Marieta de Morais. Usos e abusos da História Oral. 8 ed. Rio de Janeiro: FVG, 2006.

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